25 de mai. de 2013

O CORAÇÃO PESA 300 GRAMAS


Sim, o filme Elena. Lindo na sua maior tristeza. Lindo no que te dilacera e te faz entender que beleza não está somente nas histórias com finais felizes. Bem, essa história de certa forma teve um feliz final em forma de filme.
Arrebatador, ainda que eu evite a adjetivar qualquer imagem vista alí. Por agora vai ser inevitável. Enfim, tento em algumas linhas, que por necessidade, quis escrever assim que saí da sala de cinema e que após alguns dias me embaralharam a cabeça. Tudo ainda vai se ajeitando dentro. Sensação física de entranha. Que agita e acalma na mesma proporção. Alí não podemos dizer que só um filme. É um vida, compartilhada, generosamente partilhada. A primeira sensação desde as primeiras cenas foi a de agradecimento por gesto tão intimo,. Intimo e amorosamente violento. Assim, ofertados. Boa parte da arte é isso mesmo, uma intimidade compartilhada. Alguns tocam outros se deixam tocar. E me tocou. Nessa comunicação particular possível.

A memória materializada, querendo ganhar outras formas por uma certa urgência. De vida e de morte. De começo e de partida. Ficam várias indagações, questões e vinte mil reticências que não se transformarão em nada mais que espaços que tocaram e esvaziaram. Quase uma respiração.

A cena das mulheres floridas boiando num rio, é capaz de te levar a um aquietar e desaquietar. Nada é tão leve. Me lembrou a Ofélia Shakespeariana, que num mergulho, flutua sem vida. De vida e de dança, de memória, de intimidade de VHS, de recordação, que por sua vez é representada, no lugar da infância, ‘tentando’ regressar àquele então, quando não se pode regressar a esse lugar efetivamente, assim, o constrói a partir de recordações, por uma representação. A luz disso, lembro de um trecho de Paul Ricouer, que me soa quase como um poema “A imagem-recordação (eikôn) é a presença da ausência, é a presença na alma do homem de uma coisa ausente”. O filme é também, a cumplicidade de irmãs, de solidão, de sotaque que te faz mais intimo. Disso tudo eu vi Elena.

“Solidão é gente demais.” (Guimarães Rosa)

Maria Elisa De Macedo – Outono de 2013.









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