28 de fev. de 2006





"... Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.Fotografei a existência dela...... Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre..."

Manoel de Barros (O Fotógrafo – Ensaios Fotográficos – Record, 2000)

Continuar sendo

Sou uma enxurrada de palavras...de imagens...de uis e ais...de caras e bocas.
Uma enxurrada de nada!
De dúvidas constantes...sou uma enxurrada inconstante!
Deságuo num rio...ou um rio deságua em mim?
Uma enxurrada passa e leva todo o nada,
me deixando cheia...cheia de coisas. Leva e traz!
E prefiro ser assim mesmo, pois sem essa intensidade de gotas
não saberia viver...e não seria eu!

Quis um dia fazer uma canção. Não consegui!

Escrevo melhor para amigos, em confidência.
Para professora, que testa minhas palavras jornalísticas.
Para colegas que tento conquistar com bilhetes.
Para avisar a vizinha que o carteiro passou, mas a carta dela está comigo.
Para o gerente do banco, quando tento ser simpática e acreditar que vale a pena deixar o dinheiro lá em vez de embaixo do colchão.
Para amigos/irmãos que quando viajam, ou eu viajo, se faz necessário um diário de bordo, ou um pedido de socorro.
Para mãe, que foram tantos os bilhetinhos deixados já há muito tempo, me ensinando a fazer desses, uma válvula de escape quando não nos encontrávamos.
Para pai, quando vinha o aniversário e os recados espalhados pela casa faziam a festa em forma de palavras.
Agora, para mim mesma...nunca consegui escrever!